A semana de alta-costura teve diversas apresentações marcantes ao longo dos últimos dias – desde a despedida de Demna na Balenciaga e a estreia de Glenn Martens na Maison Margiela. Porém, também merece destaque a participação de duas figuras brasileiras que trouxeram uma representatividade necessária em Paris: Thayna Soares e Gustavo Silvestre.
Ronald van der Kemp
Na terça-feira (8), o holandês Ronald van der Kemp apresentou a coleção “The call of the wild”, e para isso ele teve a colaboração da modelo Thayna Soares e sua marca artesanal, Thayná Caiçara. Filha de caiçaras, a partir de suas vivências nas passarelas ela entendeu melhor a realidade da moda brasileira, mas foi na pandemia que o seu contato com as bordadeiras se transformou em um projeto social e, consequentemente, em uma empresa com o objetivo de posicionar essas mulheres no mercado.
A parceria entre Thayna e Ronald teve início no ano passado, e para a coleção atual ele publicou uma carta explicando a inspiração para o resultado final:
Desde 2014, estamos servindo a verdadeira alta-costura circular, criada a partir de tudo o que resta.
Desta vez, respondemos ao “Chamado da Selva”, uma homenagem à Mãe Natureza.
Um guarda-roupa nascido de uma colaboração profunda e pessoal com minha amiga e musa Thayna Caiçara e um coletivo extraordinário de artesãos e bordadeiros indígenas do coração do Brasil.
Inspirado pela exuberante e incrivelmente bela floresta tropical e seus habitantes, pela majestade fluente do Rio Amazonas, pela beleza incrível dos pássaros-do-paraíso e pela excentricidade atemporal das próprias ‘aves do paraíso’ da moda usando alta-costura old school.
Nossas criações únicas são um tributo ao esplendor e à originalidade da natureza — e às talentosas mãos humanas que dão vida ao que fazemos, transformando o descartado em algo divino.
Celebramos a esperança, o artesanato, a autenticidade da vida real, a intuição e a diversidade. Um testemunho do poder da arte e da beleza em um mundo onde a humanidade muitas vezes falha.
Em entrevista para a Bazaar Brasil, Thayna trouxe a Mata Atlântica como maior fonte de inspiração para as peças, e ao ser questionada sobre o que espera do futuro da moda brasileira, frisou: “Tem espaço para todo mundo. É menos ego, mais união. É acreditar que temos potência — e que podemos transformar o mercado com propósito e colaboração”. Confira alguns dos looks encantadores apresentados no desfile:
Germanier
Já no último dia do calendário oficial, o suíço Kevin Germanier fechou a semana de alta-costura com uma apresentação excêntrica e divertida que contou com quatro looks em parceria com Gustavo Silvestre. Nascido em Recife, Gustavo é um designer que, em 2015, criou o projeto social Ponto Firme com o objetivo de oferecer capacitação técnica em crochê para detentos e egressos do sistema prisional.
Os dois designers já haviam colaborado na temporada anterior, e para esta Gustavo utilizou como matérias-primas o crochê e a ráfia plástica, em um processo de confecção que durou quatro meses. Considerando o forte apego de Germanier pelo surrealismo, Silvestre uniu essa identidade ao seu próprio traço com referências de Recife e a cultura popular brasileira, garantindo um resultado final inebriante.
Tanto a participação de Thayna Soares quanto a de Gustavo Silvestre na semana de alta-costura parisiense mostram a capacitação da moda brasileira, e espera-se que isso abra ainda mais portas para uma valorização ainda mais efetiva, inclusive, entre os próprios brasileiros.
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