A Redz teve a oportunidade de cobrir o 5º dia da edição 59 da SPFW e aqui está nossa opinião sobre o que aconteceu

Assim como em qualquer meio, a briga por um lugar ao sol sempre existiu, eu mesma vim do meio da ciência e lá não era diferente. Não sei se essa briga vem da falta de valorização da moda no Brasil ou se em todo lugar do mundo é assim, mas ao cobrir apenas um dia de SPFW consegui perceber que essa briga é muito mais intensa quando se está no ringue, ou melhor, na sala de desfile.
Vamos ser sinceros, poucos estão lá pela moda em si, e se fomos falar de moda brasileira, menos ainda. Para mim, não faz sentido você comparecer a um evento cujo o objetivo é elevar a moda nacional usando marcas internacionais dos pés a cabeça. Dito isso, o que eu pude sentir nesse único dia foi que muitos estão lá para inflar o próprio ego, dizer ou sentir pertencente a uma determinada classe, o que faz com que o evento acabe se perdendo na própria essência.

Influenciadores na passarela. Eu não vou ser hipócrita em dizer que não concordo, pois eu mesma já assisti a um desfile por ter alguém da mídia que me interessa na passarela, ou seja, temos que lembrar que acima de tudo Semanas de Moda não servem apenas para mostrar um conceito, uma cultura e uma arte, elas também servem para VENDER, e só vende quem atinge o consumidor de alguma forma. Já dizia o ditado “A propaganda é a alma do negócio” e atualmente quem tem o poder da propaganda são aqueles que controlam o meio digital. E parando bem para analisar, de todas as últimas edições, essa foi a que menos teve influenciador na passarela ao passo que eles também eram menos relevantes. Ao meu ver, a raiz do problemas não foram os influenciadores em si, mas a fala problemática de alguns em um vídeo de um meio de comunicação renomada que soou como descaso e ninguém gosta de ter seu trabalho desfavorecido dessa forma.
Vale lembrar que o influenciador x só estava lá porque alguém, ou melhor, muitos “alguens” deram atenção e relevância a ele, então pessoa que está lendo isso, vamos fazer uma autoanálise e pensar se você não está dando palco para doido dançar.

Racismo e agressão. Não tem como questionar algo que aconteceu do MEU LADO, só não escutei as ofensas e ameaças que fizeram por conta da música extremamente alta, mas o empurrão foi visto de forma muito clara, e independente do motivo daquela mulher ter partido para a agressão, fazer isso em meio a um desfile, em uma plateia LOTADA foi de uma extrema falta de educação, de noção, de respeito e totalmente deselegante, mas mais deselegante foi a demora de um pronunciamento oficial do evento, estilista apoiando a responsável e estilista ignorando completamente o ocorrido, até porque o show dele tinha que continuar e não foi prejudicado.
Quando eu falo que a moda é suja e cheia de maracutaia e que só perde para a política, eu me refiro a casos assim. Mídias não se posicionando por medo de perder espaço, panos quentes sendo colocados, nenhuma providência sendo tomada. Eu tenho certeza que esse caso não foi isolado, que tiveram outros episódios em outras edições, mas que nunca saberemos, porque “bombas” como essa, o mundinho fashion consegue desarmar rapidinho.

Uma organização desorganizada. Como que em 30 anos de evento, toda edição os problemas são os mesmos?
Comecemos com o Credenciamento de imprensa x Convidado de marca. Como jornalista independente de um site que ainda é um bebê perto dos outros meios, temos que arriscar e “se enfiar” em eventos como esse dando nossa cara a tapa. Sou extremamente grata as marcas que confiaram em nós e nos deram a oportunidade de cobrir o desfile, mas em um lugar onde os grandes veículos de moda estão como “Mídia oficial” ter o credenciamento de imprensa barrado duas vezes sem apresentação de nenhum motivo ou critério é desmotivador, e de que adianta estar na lista de imprensa da assessoria se vamos ser barrados na porta por não portar o crachá?! Encontrar uma forma de identificar os pequenos veículos, para dar menos “dor de cabeça” para a assessoria das marcas já é uma forma de melhoria na experiência do evento, não precisa colocar todo mundo na sala de imprensa, até porque não cabe, mas nos identificar faria com que situações vexatórias não acontecesse.
já ouviram falar no termo Overbooking? É um termo usado para quando uma empresa vende mais do que é capaz de oferecer. A SPFW e as marcas que desfilam devem urgente se atentar a isso, claramente havia mais pessoas do que lugares. Eu não saberia dizer qual é a raiz desse problema, se são as marcas que não tem controle dos convidados, se é o próprio evento que se perde nesses números, mas eu sei que essa quantidade absurda de pessoas é uma das causas dos atrasos dos desfiles, pois são MUITAS pessoas para organizar em quatro categorias de fileiras, porém todas elas chegam de uma fila única interminável do lado de fora.
Mas afinal, teve alguma coisa BOA nesse evento? SIM, AS COLEÇÕES! Muito design e tecnologia foi apresentado nessa semana. Meus favoritos foram os cristais que brilhavam no escuro da Herchcovitch; Alexandre, a alfaiataria moderna da A La Garçonne, a moda masculina redesenhada e sofisticada de João Pimenta, as bolsas e o trabalho têxtil da Dendezeiro, o trabalho luxuoso feito a mão de Patrícia Vieira e o encerramento com cara de Brasil da PIET no estádio do Pacaembú mostrando que o futebol faz e sempre fará parte da nossa identidade.

O fato é que se falou tanto em QUEM estava vestindo, que as verdadeiras protagonistas foram deixadas de lado. Coleções belíssimas que mostram o grande potencial que a moda tem no Brasil foram apresentadas com maestria, mas que foram ofuscada por brigas e assuntos que já deveriam estar solucionados. Isso sem contar os questionamentos do público externo “A SPFW tem mais foco comercial ou artístico?” “Ela é ou não é democrática?” “Uma hora ela é pra todos, outra hora só para pessoas selecionadas” “Quem compra?” “Para onde vai?” “Ela é somente para a elite” “Sempre a mesma coisa” “Isso é moda nacional?” “Não muda nunca, sempre a mesma coisa”
Para encerrar eu pergunto diretamente para a São Paulo Fashion Week
Quem é você?
Pra quem você é?
E o que você comunica?
Espero revê-la em outubro com essas respostas (e com a minha identificação de imprensa)
Ate lá!